sexta-feira, 20 de novembro de 2009

E salve a igualdade...

"Temos só duas vezes mais genes que os vermes , 60% deles são cópias dos genes de moscas , fungos e bactérias.A diferença genética entre um negro e um branco é menor do que a existente entre dois negros. Isso deita por terra nossa empáfia e nossa pretenção , Uma pancada equivalente à descoberta de Copérnico de que a terra não era o centro do universo, conforme acreditava-se no século dezesseis."
Frei Betto

domingo, 15 de novembro de 2009

Natal (2006)

Dezembro de 2006


E de repente chegou o Natal.
Já passou tudo o que tinha que passar.
Veio aniversário, veio viagem, veio Páscoa, veio transferência da faculdade. Teve emprego velho e também novo. Teve choro, teve dor, teve gargalhada. Muitas vitórias, muitos sustos, muitos sorrisos e muitas saudades. Muito sono, muito estudo, muitas provas, muitas fotos. Muito som e muito silêncio. Muita gente, muito bolo, muitos abraços. Muita chegada e muita partida. Pouco telefone, pouco sobrenome, pouco tempo e muita ternura. Muita trilha e pouca lua. Poucas compras, muita gordura, pouca TV e muita pintura.
Todos os passos e todos os enlaços que retorcem as diretrizes das calçadas.
Todas as buzinas e as muitas gasolinas que consomem o colorido do Natal.
Toda pressa, todo o projeto e todas as benfeitorias no papel.
Acorda-se correndo, compra-se correndo e saboreia-se as nuvens de aluguel.
As muitas notas, as muitas cotas e a estrela que mal brilhou.
Estão todos emancipados, todos encurralados entre o verde-escuro e a glória da caridade.
Tem de tudo: promoção de beijos, gincanas de perdão, pingos de alegria e sorrisos por compaixão.
Há um que se perde meio tamanha manifestação e mal se lembra se é janeiro ou se é verão.
Tudo se agita: gorro, árvores, sacolas e filhos da escravidão.
Nada se reconstrói: são as cinzas em vão, as palmas da mão e as notícias da televisão.
Estamos todos aglomerados: os educados unidos aos sem coração. Os marajás e os que não tem pedaço de pão.
Aos poucos, engole-se a saliva, os sinos, as abelhas e a contra-mão.
Perdemos o redondo, perdemos o degrau e esculpimos a descomposta nação.
Alcançamos o telhado, alcançamos o tom aguado, muito brilho e nenhuma retidão.
Já se foram as bicicletas, já se foram as petecas e os piques em frente de casa.
Estão todos colados: o fiel indigente ao narciso de estimação.
Vamos todos na mesma correnteza: sabonete, mamão, uma prenda e a escuridão.
Desconhecemos o lodo, extraímos do poço um pouco do branco e as esferas da coleção.
Desfigura a história, e alguém cospe na memória, enquanto tudo esvai-se e derrama pelos ouvidos, pela areia, pela aurora e pelo tufão.
Somos todos filhos. Somos todos pais. Alguéns sem retirantes e repletos de atrofiados diamantes.
Um dia, sem que ninguém perceba, tudo acaba. Sua gravata vira nada. Sua postura vira nada. Sua formosura vira nada.
Você é apenas mais um, no meio de toda espécie empipocada.
É quando você abre os olhos e nota tudo que se evapora.
Já se foram os livros, já se foram as fotografias. Se foram os brincos, os cintos, os telefones e as cobranças.
Você perdeu a agenda, a encomenda, o feijão, os CDs e as máquinas de toda ocasião.
Acabaram os desfiles, as vitrines, a carteira e o mercado.
Já voaram os bonecos, os patins, as raquetes, o vinho e o carrinho de mão.
O nada também é o carro, o bombom, o porta-retrato, as panelas e as chaves do portão.
Está apenas o branco, o violino, o sorriso e a unção.
Não é mais importante se tem árvore ou cheiro de capim-limão.
Estamos apenas eu e Ele.
Ouço a paz, as promessas e a devoção.
É muita luz, muito amor e muita gratidão.
Sem pesar, eu suplico: quero isso. Quero ver-Te.
Ele me mostra as mãos. Me mostra Sua riqueza, Sua criação e as dádivas espalhadas pelos Seus.
É tudo indefinido e submerso como a pluma da relva que cobre o chão.
E é tudo isso que se faz tão subjetivo, que envolve a minha alma, e cala meu pranto de tempestades e de gritos do sertão.
Tudo aquilo que não se move, mas se modifica. Tudo aquilo que não se vê, mas se crê.
E aí está a essência diária, massacrada por todo fim de ano: eu e o Pai. O Pai, com Seu filho amado.
E um espírito que mais do que santo, se faz milagre dentro de gente. Gente que pode ser simplesmente gente em todos os Natais. Natais que podem proliferar contentamento e fé.
Fé que lava todas as lágrimas e recolhe cada sorriso de todo o dia que brota, concedido pela Fonte da Vida.

Natal (2008)

18 de dezembro de 2008


A gente não tem tempo pra se doar, mas tem tempo pra aproveitar a liquidação das lojas. A gente não tempo pra visitar um doente mas tem tempo pro futebol, pro Fantástico.
Muitas vezes, a gente não tem tempo nem pra família, mas a gente tem reunião, churrasco, barzinho e muita pizza.
A gente não agüenta ver sangue mas se tem acidente na rua, todos querem ver.
A gente não suporta pensar na violência mas adora curtir um filme de suspense, de terror ou de luta.
A gente tem nojo de mendigo mas não tem nojo de pegar a batata frita com as mãos.
A gente tem medo de entrar numa enfermaria mas a gente não tem medo dos brinquedos dos parques de diversão.

O fato é que a gente ama muito a gente.
Quanto mais a gente ama a gente, mais a gente desama o outro.
E isso pode até ser natural agora mas, um dia, em algum momento, a gente se dá conta que tanta indiferença não é normal.
A gente se dá conta de que a "cafonice", a "tolice" de saber enxergar o próximo, alegra muito mais a alma do que uma longa tarde de sono...

Fico imaginando aqueles que viam a Madre Teresa de Calcutá passar e deviam pensar "louca, perdendo o tempo com isso". E hoje, que ela não está mais aqui, todos lembram como uma pessoa que fez a diferença e que sempre teve argumentos sábios porque tudo sempre foi amor. Talvez ela tenha tido uma "vida de gado", como diz a letra da música do Zé Ramalho, mas a letra também diz que essa gente que tem "vida de gado", é "povo feliz".

Então... fico eu vendo a proximidade do Natal e observando tantas contrariedades da gente nesse mundo.
A gente exige tanto de tudo e de todos e pouco pára para, pelo menos, refletir no que tem feito para que muito disso tudo seja muito diferente.

Talvez... talvez essa seja a hora de pensar nas nossas contrariedades e experimentar ser feliz servindo!
Talvez essa seja justamente a hora de deixar de gastar tempo com atitudes que só agradam a gente!
Talvez seja a hora de deixar o individualismo e olhar em volta. Vê! Muito mais sorrisos há em volta. E eles se multiplicam para dentro!!!

É justo o espírito do Natal: desfocar de nós. Focar no Cristo que nasceu, viveu, morreu e só se dá por e em amor.
É essa a verdadeira pérola de poder viver o Natal tal como ele é: um mistério e uma dádiva que alimenta a alma daqueles que experimentam ao menos uma vez, se diminuir para que o amor aumente mais. Aumente em atitudes, alargando o coração e propiciando pequenos e sinceros gestos e palavras, cheios de gratidão, generosidade, honestidade, perdão, alegria pura, pura paz... uma paz que só pode vir Dele: o verbo que se fez carne.
Aquele que justamente por ser o "Deus conosco", é o único que pode dar a paz que homem nenhum pode dar.
Aquele que prometeu a vida em abundância, contanto que vivêssemos Nele.
Aquele que nos faz experimentar o valor da doação e entender que não há como explicar. É só o sentir. O sentir sobrenatural que nos faz livres, contentes e prontos para desejar e viver o amor cada vez mais.
Não há nada que nos faça voltar. Fomos atraídos pela preciosa luz de Cristo e Seu incomparável coração.

Mas talvez... talvez... talvez, pra muitos (e de novo!), essa nem seja a hora ainda...
A qualquer momento o celular pode tocar e pode ser a festa, o bar, o cinema. É o "eu" que volta entrar em ação.
Nessa hora, muita gente pensa então: "Ah... deixa essa história de se doar, para depois...
Deixa que os meninos de rua virem traficantes.
Deixa que os indigentes padeçam (pelo menos não sou que estou padecendo!)...
Deixa que os miseráveis (que se corroem de dor), penem e se desfaleçam. Eles estão sempre aí.
E existe governo pra quê?"

É engraçado... a gente se desdobra pra ganhar uma partida de jogo.
Mas no jogo para ganhar, resgatar, conquistar valores humanos e valores de vida, ninguém anima de andar com a primeira peça.
E acaba ligando a televisão...
E tudo continua como sempre foi.

Uma pena... porque hoje já foi.
O que resta, é o futuro. Sabe-se lá como... pois todo amanhã é a simples conseqüência do que é plantado hoje.

E eu... eu já vou indo enquanto é presente!

Sigo com todo meu amor. E o melhor: amando cada vez mais, graças a Deus!
Porque amar também é saber ter esperança.
E a esperança alimenta a vida. E o amanhã.

Um beijo,
muito amor,
toda minha alegria,
e o melhor Natal do mundo, porque nele há todo sentido da vida!

ENTREVISTA: Voluntários Embratel

Abril de 2006!

Voluntários Embratel - Como você conheceu a Sonhar Acordado?

Luiza Oliveira Belotti -
Essa é muito boa! rsrs... Eu sempre procurei muito por trabalho voluntário com crianças com câncer mas nunca consegui. Participei de muitas palestras no INCA mas quando me chamavam, era para fazer um trabalho em horário comercial, 3 vezes por semana. Aí... ou eu trabalhava ou eu ficava no INCA. Não podia deixar o trabalho e então, continuei na vontade do trabalho voluntário, mas sem saber onde poderia procurar oportunidades para fazê-lo. Um dia eu estava batendo fotos na Vista Chinesa (amo bater fotos de paisagens), um grupo de mulheres mexicanas estava visitando o local e me perguntaram se eu podia bater uma foto delas e enviar por e-mail. Eu disse que sim e no dia que fui mandar as fotos, perguntei por que elas estavam no Rio. Uma delas me respondeu que fazia parte de um trabalho voluntário fundado no México e elas estavam dando uma "força" aqui no Rio. Daí... foi só correr para o abraço! Foi a coisa mais oportuna que poderia me acontecer! Fiquei "muitão" feliz e na mesma hora trocamos telefones para eu ficar bem informada de quando seria a próxima atividade da ONG.

Voluntários Embratel - Como é o trabalho da Ong e qual seu principal objetivo?

Luiza Oliveira Belotti -
O Sonhar Acordado é uma ONG que abrange vários projetos, com diferentes focos. O único ponto comum é que todas as crianças assistidas pela ONG são crianças de baixa renda. Há projeto direcionado a crianças carentes (Amigos Para Sempre); há projeto que busca passar valores e humanização no ambiente em que as crianças vivem (SuperAção); há projeto que busca a formação de pré-adolescentes na área profissional (Preparando Para o Futuro); e há projeto direcionado a crianças com doenças crônicas (Sonhando Juntos).

Voluntários Embratel - Qual é o objetivo do Sonhando Juntos?

Luiza Oliveira Belotti -
O Sonhando Juntos tem como principal objetivo levar esperança, carinho e alegria às crianças que estão doentes ou em fase terminal. O trabalho começou com visitas a um hospital fixo mas esse hospital entrou em obras e os voluntários passaram a exercer as atividades numa Casa de Apoio do Rio de Janeiro. Chama-se Casa de Apoio a Criança com Câncer de Santa Tereza. No momento, as brincadeiras são realizadas com as crianças assistidas por essa Casa.

Voluntários Embratel - Como é sua participação na instituição?

Luiza Oliveira Belotti -
Faço parte do Sonhar Acordado de duas maneiras:

1) Sou coordenadora de Logística da festa de Natal anual da ONG, quando são reunidas as crianças de todos os projetos para uma grande festa com animadores, muitos brinquedos, muitas brincadeiras e muitos presentes. Para essa atividade, sou responsável por "correr atrás" de 1.200 presentes de Natal para todas elas... Para que aconteçam as festas de Natal, voluntários participam de uma reunião, previamente, quando são discutidos valores a serem transmitidos às crianças no dia da festa. Ao longo do evento, o voluntário pode falar sobre "carinho" ou "perdão" ou "amor" etc. São, aproximadamente, 1.200 crianças. Em outubro, todas essas crianças escrevem uma cartinha para o Papai Noel com opção de 3 presentes que elas escolhem de um catálogo que eu elaboro (esse catálogo existe porque tem que haver um limite de valor). As cartinhas são analisadas e distribuídas para os voluntários. Cada voluntário fica com, no máximo, 2 cartinhas e eles precisam tentar conseguir um dos 3 presentes escolhidos pela criança. No dia da festa de Natal, que geralmente acontece num lugar de grande espaço ou boa infra-estrutura, elas brincam, dançam, aprendem valores ao longo do dia e recebem, no final da festa, o tão desejado presente. É bem emocionante...

2) Sou voluntária do projeto Sonhando Juntos, cujo compromisso é quinzenal. Um sábado por mês é realizada uma reunião entre os voluntários e, no sábado seguinte, é realizada a visita às crianças. Como o objetivo do Sonhando Juntos é buscar "captar" um sonho pessoal da criança, a reunião entre os voluntários é primordial para definirmos a atividade que vamos trabalhar no próximo encontro com as crianças para despertar nelas o desejo de falar sobre seu sonho.

Voluntários Embratel - Como surgiu esta idéia de realizar os sonhos das crianças?

Luiza Oliveira Belotti -
Essa idéia de realizar sonhos pessoais foi que deu iniciativa à ONG. Tudo começou quando uma criança que tinha um grande desejo de ser bombeiro e estava com câncer, conseguiu passar um dia inteirinho no Corpo de Bombeiros, vestida como um bombeiro, com crachá de bombeiro e tudo mais. Participou de cada atividade e simulações de incêndio, entre outras coisas... O menino veio a falecer mas, mesmo muito doente, teve muitos grandes momentos de intensa alegria, por ter realizado seu sonho que, aos voluntários, foi possível correr atrás para realizar.

Voluntários Embratel - Quem são as crianças beneficiadas pelo trabalho da Sonhar Acordado?

Luiza Oliveira Belotti -
Crianças de baixa renda carentes (de abrigos da cidade) e crianças de baixa renda com doenças crônicas (de hospitais do Estado).

Voluntários Embratel - Quais são os projetos desenvolvidos pela Ong?

Luiza Oliveira Belotti -
Amigos Para Sempre - os voluntários criam um laço de amizade com as crianças, sempre transmitindo algum valor humano. Além disso, eles fazem atividades culturais com as crianças, tais como idas a museus, teatros, cinemas, etc.

SuperAção - atividades em comunidades, instituições ou colégios, sempre levando valores contribuindo com a humanização do ambiente em que as crianças vivem. Os voluntários trabalham junto a profissionais especializados (educadores, recreadores ou profissionais da área de saúde).

Sonhando Juntos - os voluntários transmitem alegria, esperança e muito carinho e amor a crianças de baixa renda que sofrem de doenças crônicas. Além disso, em cada brincadeira os voluntários tentam "pescar" uma pista do que a criança sonharia em ser ou em ter, para que o sonho seja realizado.

Preparando o Futuro - busca contribuir com a formação de pré-adolescentes tanto no ramo profissional. A orientação acontece através do programa de Aprendizado Mirim, trabalhando para que o pré-adolescente esteja preparado o início da sua vida no mercado de trabalho e na vida.

Voluntários Embratel - O que deve fazer quem quiser ajudar ou participar da Sonhar Acordado?

Luiza Oliveira Belotti -
Além de o voluntário poder escolher o projeto com o qual mais se identifica, também há outras opções:

1) Os voluntários que não podem assumir um compromisso quinzenal com nenhum dos projetos, pode participar de uma festa anual, que se chama Dia do Sonho. Para este evento, são reunidas as crianças de todos os projetos para uma grande festa com animadores, muitos brinquedos e muitas brincadeiras. O último Dia do Sonho aconteceu na Casa de Festas Praticar, dentro do condomínio Rio Mar, na Barra da Tijuca. A área de lazer era imensa, com muitos campos, muito espaço para os brinquedos infláveis, espaço para o palco, muitas árvores e todas as outras infra-estruturas necessárias como banheiros, cozinhas, balcões que ofereciam grande variedade de lanches e etc. Essa festa acontece sempre, no mês de junho. Esse ano vai acontecer no dia 3 de junho, de 09:00 às 15:30.

Além dessa festa anual, também acontece em dezembro, a Festa de Natal. A última aconteceu no Circo Voador. Possui a mesma infra-estrutura e os mesmos objetivos da festa do Dia do Sonho. A diferença é que tem presença de Papai Noel e as crianças ganham o tão esperado presente que escolheram e pediram na cartinha do Papai Noel. É muito emocionante!

2) Outra maneira de o voluntário participar, é fazendo qualquer doação para a ONG. Mesmo com patrocínios de algumas empresas, às vezes falta capital para tamanhas atividades... Para quem quiser ajudar a conta é:
Banco: Banco Itaú
Agência: 0272
Conta: 73427-8


Voluntários Embratel - Qual o principal retorno para quem, como você, se torna um voluntário?

Luiza Oliveira Belotti -
Posso dizer, com um sorriso largo e com a alma mais leve do mundo, que o retorno que os voluntários recebem é inesquecível. A cada valor que a gente transmite para alguma criança, a cada criança que fala um "Obrigado, tia!", a cada criança que abraça apertado ou pergunta por que a gente é feliz, é muita coisa que muda no nosso coração.

A primeira fase é quando a gente deixa de reclamar de muitas coisas que estamos habituados a reclamar e que constatamos, de cara, que é um absurdo resmungar por tão pouco.

A segunda fase é quando a gente passa a valorizar as coisas que menos valorizamos porque são muito comuns e óbvias pra gente: pão quentinho, uma cama confortável, uma família, um carinho, uma atenção, um sorriso, um abraço, um banho quente, poder andar, poder falar, poder enxergar... Por fim, em pouco mais de 1 ano no projeto posso dizer que me sinto completamente diferente (pra melhor!). Hoje eu sei viver o valor do perdão, da paciência e da doação de amor. Se alguém passa por mim e não fala, eu apenas sinto muito ao invés de guardar mágoa ou de maldizer; se alguém grita comigo e perde o controle, eu consigo manter a calma ao invés de responder; se alguém se irrita de tal maneira que xinga o trabalho e reclama que tudo dá errado nas suas atividades eu apenas agradeço a Deus porque aprendi a valorizar ainda mais o meu trabalho e posso entender, claramente, que problemas todos nós temos. A diferença é que muitas vezes damos muita importância pra eles quando, na verdade, há muitos maiores e, com certeza, muito mais graves.

Voluntários Embratel - O que você diria para quem deseja participar, mas ainda não sabe como começar?

Luiza Oliveira Belotti -
O primeiro passo é pensar no próximo. O que eu mais escuto das pessoas é "Não sei se eu agüentaria..."

Eu sou a pessoa mais sensível da minha família e a mais sensível do meu grupo de amigos a ponto de chorar com cena de novela ou se avistar um mendigo na rua. Mas, desde que comecei o trabalho, o meu objetivo era de fazer alguma coisa de bom por alguém. A partir do momento que eu me vejo naquela situação porque estou dando amor a alguém que é carente desse sentimento ou que recebe esse sentimento mas que precisa de mais, eu anulo as minhas fraquezas e me fortaleço para o meu semelhante (digno de carinho e de amor tanto quanto eu). Então... esse é o passo mais difícil mas também, o decisivo! Se as pessoas tiverem a noção do bem que estão fazendo, não há nada que as impeça de assumir esse compromisso! Os horários da agenda são adaptados e até a personalidade às vezes sensível demais, também é moldada.

E o melhor: além das crianças ganharem muito, os voluntários ganham em dobro! É uma grande troca de experiência, de valores, de sentimentos sinceros, de amizade e de uma linda lição de vida!


Viver de verdade!

14 de setembro de 2009


Ela estava ali, sem piscar. Olhos molhados, cabeça balançando, corpo tremendo. E minhas mãos, apertadas pelas suas.
O nome eu não sabia. aliás, não fazia idéia. Pouco importava. Ela clamava - apenas com um olhar - por um socorro.
Medo. Ela tinha muito medo... e quem não teria?
Apertava a minha mão...
Apertava a minha mão... e seguia sem ter coragem.
Depois de correr da sala de exame por 3 vezes, chorando, desde que apertou a minha mão, não deixou mais a sala.
A médica, que não entendia nada, não sabia se me ouvia ou se seguia insistindo com o procedimento.
"abra a boca e deixa eu te dar essa anestesia. A gente precisa fazer a biópsia de qualquer maneira."

Tem palavras que já assustam sem precisar de uma frase inteira: anestesia, biópsia, câncer. Muitas vezes, mesmo que isoladas, essas palavras dizem tudo.

"Lembra de quando você ia ao dentista e precisava levar uma anestesia? Então... é por isso que o gosto não é bom mas vai fazer todo efeito possível..."
E de onde eu tirei essa frase? Eu nem sabia o que ela tinha! E diferente do dentista (que com apenas umas borrifadas a anestesia já fez efeito), aquele spray que estava ali, ela tinha que ser tomado um vidrinho inteiro.

Ela olhava pra mim e olhava pra médica. Parecia que queria entender como eu estava ali, por que eu estava ali e por que eu apertava sua mão.
Entre uma falta de coragem e outra, mal percebi mas não deixei que a médica conversasse muito.
Segui falando: "Confia em Deus, querida. confia muito, de todo o coração. Você vai ver que quando o seu medo for enorme e você não tem o que fazer, só Ele vai ser capaz de te acalmar e te fortalecer."
A médica olhava pra mim e seguia pedindo que a moça abrisse a boca. enquanto isso, me contava que ela tinha 2 filhos pequenos.

- Filhos pequenos? Mas que coisa mais especial ! Então eles vão conhecer uma mãe muito guerreira a partir de hoje! - disse eu.

Ela gaguejou, sem quase conseguir falar, de tanto que tremia: "Eu não quero, não quero..."

E a médica continuou: "Sua família veio de tão longe, só pra te dar uma força. E você não vai ser corajosa?"

- Sua família está aí? É de outra cidade? Que maravilha que você tem uma família que te ama tanto! Faça isso por eles, querida, pois muitas pessoas gostariam de ter uma família num momento desses tão difícil mas não tem...

Ela fechou os olhos. Fez uma oração bem baixinha, sozinha, apertando as minhas mãos.
Eu não fechei os meus mas também fiz a minha minha. E desejei, verdadeiramente, que Deus tivesse misericórdia daquela mulher.

Ela abriu a boca. Depois da anestesia, ainda deu umas cuspidas. Cansada de relutar e percebendo que fugir não era a melhor opção, optou por enfrentar e tentar, mesmo na dor, experimentar os efeitos da fé.

- Luiza?

(alguém me chamava)

- Ah? - respondi, ainda olhando para a mulher.

- É que o Salomão precisa ir em outro médico agora.

- Tá... to indo... - respondi, ainda com as mãos sendo apertadas pela mulher.

Sem conseguir largá-la correndo, para ir para a sala do outro médico que o Salomao precisava ir, ainda perguntei seu nome.

- Ana. - ela disse.

Dei um abraço forte. um abraço numa mulher que nunca mais vou esquecer na minha vida...
Desejei que ela ficasse com Deus e disse: "Ana, vou pedir a Papai do Céu por você, ta?"

...

A manhã tinha começado muito cansativa. Eu tinha trabalhado a semana toda; tinha estudado no dia anterior à noite; tinha corrido atrás do ônibus que parou uns 50m longe do ponto.
Minha sandália tinha agarrado em vários paralelepípedos da rua enquanto eu corria atrás do ônibus; o motorista voou com o ônibus, "tocando o terror" em todas as curvas.
Eu passei um bom pedaço da noite em claro, pois acordei passando mal. Mas mesmo assim, saí cedo para ir com o Salomão ao INCA (tinha me comprometido a isso), antes de pegar no trabalho.
Nessa manhã, caiu um temporal impressionante no Centro do Rio. As ruas já estavam virando rios... e junto com tudo isso, a cabeça a mil: "Preciso fazer tal coisa hoje no trabalho; preciso marcar tal médico... opa! Aqui tem muita água! Será que o carro passa???!!! Hum... e aquele trabalho da faculdade? Consigo fazer no sábado? Ou domingo? Ih! Chegamos! Não... aqui não dá pra parar com o carro... olha o tamanho da poça pra sair daqui... ai..."

Curioso... justamente essa loucura toda só me mostra o quanto sou feliz.
Feliz por andar, por correr atrás do ônibus, por poder comprar outra sandália, por ter trabalho, por estudar, por ter casa, por ter família, por ver chuva e ver sol, por trabalho da faculdade e direito a fim de semana.
Feliz por ter saúde...
Feliz por pedir a Deus, a cada dia que nasce, que eu perceba todas as dádivas que eu receber.
Feliz por desejar me importar em fazer a diferença na vida de alguém. Assim, nenhum dia é igual ao outro... e até as sextas-feiras chuvosas (cansativas da faculdade do dia anterior e apesar de passar mal de madrugada) não são empecilhos para que eu seja feliz.

E a vida é cheia de coisas mesmo... e é maravilhoso viver de verdade!

Páscoa 2009

9 de abril de 2009

Pois quem põe os seus próprios interesses em primeiro lugar nunca terá a vida verdadeira;

mas quem esquece a si mesmo por minha causa terá a vida verdadeira.”

(Lucas 9, 24)

São gentes. Infinitas.

Cheias de sentimento. Milhões.

Dor. Muita dor. Toda alma chora. Lembra. Sente o que viveu, aflige-se com o que vive e teme o que virá.

Mas Ele está ali. Sim. Há beleza. É todo belo. O mais belo de todos.

Mas não é só beleza. É também milagre.

É a beleza de estar presente justo quando alguns não acreditam que exista. Justo onde ninguém mais espera ou vê motivo para esperar.

Milagre.

A beleza de agir na dor. É por isso que é belo. É por isso que é milagre. Quem mais seria tão humilde? Tão bom? Tão presente? Tão amor?

Mas não é só belo. É também forte, sabendo ser suave; é poderoso, sabendo ser fraco. É sem igual. Como pode? Quem pode?

O belo milagre.

Olho em volta. São lágrimas inundadas de emoção. A emoção acompanhada da infinita paz. Sempre aí: onde tudo só sabe ser bom. Na verdade, magnífico.

Não é que as circunstâncias tenham mudado. Nós mudamos.

Não são os problemas que foram embora. Fomos nós que chegamos. Nós abrimos os olhos. Nós abrimos o peito, rasgamos o coração.

É aí que a cruz fica tão bonita. Afinal, é tudo por amor!

Não há o que temer.

E, mais uma vez, a beleza do milagre.

Abraçar a cruz, cheio de fé, é unir-se ao sacrifício que salva e que é impetuoso de amor.

Não importa o tamanho da cruz. Nem o tempo que vamos carregá-la.

Sim. Nós seguimos. Estamos vivos. Precisamos viver!

Olhos fixos.

Braços firmes.

Pés sólidos.

Peito pleno de esperança.

Porque diante do estorvo está a beleza de aprender a amar lutando;

sonhar na condolência;

preparar-se para a benignidade de ser soberano.

Porque o coração rasgado não vê só a cruz. Ele vê a vitória que vem por detrás dela.

“Porque somos dominados pelo amor que Cristo tem por nós...

Ele morreu por todos para que os que vivem não vivam mais para si mesmos,

mas vivam para aquele que morreu e foi ressuscitado para a salvação deles."

(2 Coríntios 5,14 e15)

Luiza (Feliz).