Com as pernas bambas, ele parou – meio perto de mim - bem na minha frente, e se esticou. Depois, sentou em cima do isopor.
Seu short largo, caindo, foi esvaziando à medida que punha as mãos nos bolsos e tirava um peso de moedas.
Olhou pro céu, ajeitou o boné. Se assustou com o barulho forte que vinha da água e logo mirou o latão de amendoim torradinho.
Contou as moedas. Uma a uma. Pôs as moedas de volta em seu short que teimava em cair.
A pele bronzeada brilhava no meio de lixos em volta: garrafinhas, canudos, papel laminado e até tampa de garrafa de champanhe.
Ia passando um colega que lhe perguntou: “Hoje vai ser bom?”
- Não... hoje acho que não.
- Ah... amanhã que vai ser melhor, né? tem até aquela de Niterói.
- É... tem razão. Amanhã o ensaio vai ser bem melhor!
E eu que pensava que eles falavam do lucro das moedas... era sobre os ensaios das escolas de samba!
O colega saiu gritando “Ó, O Globo! Ó, o biscoito Globo!”
O senhorzinho foi se levantando também. Deu mais uma olhadinha pro mar, pegou os dois lados do short, deu mais uma puxada, botou o isopor nas costas, tomou o latão de amendoim torrado, estufou o peito, afundou os pés morenos na areia, e seguiu gritando:
“Ó o H2O, o mate, o Guaravita, coca, amendoim...!”
Pouco depois, ouvi uma mulher aos berros, chamando “polícia, polícia!”, correndo atrás de um menino estressado que respondia a ela: “Pô, pára de atrasar a vida dos outros!”
O menino espertalhão acabou largando pela areia a carteira e umas roupas que havia roubado, e fugiu – resmungando – que a moça tinha atrasado a vida dele.
Pois é... tanto o senhorzinho de shorts caindo quanto o menino fugindo, são brasileiros. A diferença de valores, realmente, é a gente que faz.
Rio de sol, caos, pombos e lixo, 16 de janeiro de 2010.