terça-feira, 1 de junho de 2010

Uma viagem com o Salomão (de 1 a 3 de Maio de 2009)

Fecho os olhos e ainda vejo aquela cabecinha acompanhando as curvas da estrada. E de pensar que essa viagem quase não aconteceu, por causa de um problema na embreagem do carro (já há alguns bons quilômetros de casa!). Tivemos que acionar o seguro, rebocar o carro e buscar outro carro para seguir viagem.
Tudo se resolveu e, apesar do cansaço e do atraso, resolvemos seguir em frente. Persistir na missão de levar o Salomão para rever uma das pessoas mais especiais da vida dele.
Tivemos que parar em Aparecida para que ele se alimentasse. Não há como ele fazer isso dentro do carro (a sonda precisa ser pendurada num lugar alto). Meu padrasto pendurou num galhinho de árvore. E enquanto o Salomão esperava que todo alimento descesse pela sonda até dentro do corpinho dele, ele sintonizou uma rádio. Mamãe começou a cantar e ele se embalava pra lá e pra cá... É triste não poder vê-lo sorrir. É triste ele não poder se expressar.
Numa noite bem fria da cidade, chegamos, graças a Deus, muito bem ao Seminário onde nos receberia o Pe. Horácio. Ele estava tão feliz que já nos esperava na calçada, ansioso com o reencontro com um rapazinho que ele tinha acompanhado muito de sua história.
Os dois se abraçaram. Uma cena muitíssimo bonita.
Esse carinho se estendeu numa longa conversa que varou a madrugada. Todos na mesa e o Salomão tomando uma vitamina pela sonda pendurada no alto de uma das grandes janelas. Ele sempre participando dos assuntos, através do seu caderninho.
Muito depois, nos despedimos do padre e nos embalamos num quarto aconchegante. É bonito vê-lo sereno, deitado, dormindo. Respirando e transmitindo aquele ar ingênuo, de criança... Um alguém indefeso, frágil... como pode ser tão forte? É muito milagre! Seu rosto todo marcado de inúmeras cirurgias mostra machucados, feridas que faz tempo que voltaram a ser reabertas, voltaram a “estourar” em sua face.
E quando veio a nova manhã, veio também um cheirinho de orvalho e aquele jardim lindo, que a gente mal pôde perceber quando chegamos tão tarde da noite. São essas manhãs que renovam o Salomão. E diante de um cenário tão diferente de tudo o que ele está acostumado, era só desfrutar... havia tantas árvores, tantas flores...! Havia até sinuca, num salão enorme, que fascinou o Salomão. É tão bom saber que ele experimentou momentos novos!
Salomão deixou de lado até o incômodo de andar em público e topou passear num dos parques mais famosos da cidade. Às vezes dói ver a insensibilidade das pessoas quando fitam ele; dói ver que dói nele; dói vê-lo tão diferente em tantas coisas que pra nós é tão normal...
Não era justo comprar um picolé, mascar um chiclete, saborear um chocolate. É bom experimentar a caridade abrindo mão de coisas que podemos viver sem elas, somente por amor a alguém.
Saindo do parque, seguimos para uma missa que o querido Pe. Horácio ia celebrar. Ali, há quilômetros de casa, eu, Salomão e minha família viveríamos um dos momentos mais felizes de toda nossa vida. Na Homilia, quando o padre falava sobre esperança, fé, amor... ele contou a história de vida do Salomão para todas as pessoas que ali estavam. Disse que o Salomão é um grande amigo dele e que lhe ensina muito a respeito de valores que valem a pena ser vividos. Disse que, no dia anterior estava se sentindo triste com alguma coisa e falou ao Salomão pelo msn e o Salomão disse para ele seguir em frente pois “nada é razão para desanimar; tudo tem um propósito; todos temos uma missão. O que devemos fazer é aproveitar as oportunidades para fazer o bem e amar. Amar muito a Deus e ao próximo.” (algumas das palavras lidas pelo padre numa das cartinhas que o Salomão lhe dedicou). FOI EMOCIONANTE DEMAIS.
Todos nós nos emocionamos muito. Muito mesmo. O padre ainda pediu que ficássemos de pé e, agradeceu, em público, por todo nosso carinho e dedicação ao Salomão. Naquele momento eu tive a total certeza de que estávamos no lugar certo, no caminho certo e vivendo a nossa missão no mundo. Para nós, nada sobrepõe a humildade, a coragem, a paciência e a fé do Salomão. Estar com ele e fazer tudo o que está ao nosso alcance é o que nos deixa mais felizes, apesar de toda a sua história de dor, solidão, abandono, doença, marcas expostas. Tivemos a certeza de que não estávamos ali somente para matar a saudade de dois grandes amigos mas sim, que aquele encontro também nos garantia que tínhamos mais um aliado na luta do Salomão. Por certo veremos bem depressa as mãos de Deus agindo através do querido Pe. Horácio.
Nessa noite, antes de irmos dormir, ainda ouvimos, maravilhados, algumas histórias do padre em suas viagens missionárias e seus anos vividos em Angola, só por sua paixão de se doar tanto pelo próximo. Um homem que passou até por minas, correndo risco de vida, nas grandes épocas de guerra naquele país. Também nos divertimos com suas experiências de comida... até rato ele já comeu!
Tudo passou muito rápido... já era a nossa segunda e última noite. Uma noite fria, de novo, e diferente da primeira, o céu estava todinho estrelado. Cheinho de estrelas. Ainda as admiramos, meio às copas das árvores que marcavam nosso campo visual. Nosso coração estava renovado. Brilhando como as estrelas. Tínhamos vivido e presenciado momentos especiais do Salomão com seu amigo Pe. Horácio. Seus conhecimentos, suas amizades, suas lembranças incomuns! Que bonito vê-los com tanta afinidade e sincero amor. Acho até que descobrimos com quem o Salomão aprendeu a ser tão perseverante... =)
No dia seguinte, uma bela manhã nos despediu de volta à casa. Nós, na nossa; ele, no cantinho dele. Parece até que nada mudou, que são as mesmas feridas. Sim... fisicamente, são as mesmas cicatrizes, seu rostinho inchado, sua magreza, sangue notável que por vezes aparece pelo seu rosto. Entretanto, é alguém que cada dia muda, sempre pra melhor. Quanto maior o obstáculo, maior o salto que ele dá.
Conosco, também há uma mudança pessoal: quanto mais dias passamos ao lado dele, mais o nosso coração aprende a se alimentar de valores carregados de bondade, humildade, confiança, amor puro, puro amor, só amor.
Deus abençoe a todos!
Grande beijo!

Toda a minha alegria por mais 1 ano de vida (21 de Janeiro de 2009)

"Chuva de bênçãos pra você!" Foi isso o que ouvi 1 ano atrás, quando um temporal caiu durante o dia inteiro do meu aniversário. E foi exatamente isso que Deus me presenteou em mais esse ano de vida: uma infinidade de dádivas, derramadas com tanto amor e fartura, como aquelas chuvas mais intensas que a gente vê cair.
Foi um ano com desafios e conquistas enormes no trabalho voluntário;
um ano que teve luau, rodízios, danças, violão e muitas risadas com amizades incríveis que Deus me apresentou;
um ano dedicado com muito carinho a famílias carentes e a visitas a hospitais;
um ano cheio de beijos, abraços e sonhos das crianças com câncer;
um ano com a melhor viagem da minha vida, em que tudo deu certo e foi tão bom pra mim;
um ano com novas empreitadas no trabalho (e graças a Deus por eu ter emprego!);
um ano com os mais lindos apóstolos que poderia conviver e aprender dentro do Sonhar Acordado e Regnum Christi;
um ano com o namorado mais sincero, carinhoso, divertido e fiel a Cristo que Deus poderia me dar;
um ano com a família mais linda, mais atenciosa, mais presente, mais companheira, mais amável que existe;
um ano bem mais perto Daquele que me deu a vida!
Agradeço muito a Deus por todos vocês no meu caminho.
Àqueles que magoei, minhas sinceras desculpas!
Àqueles que sempre me ajudam, me apóiam, tem paciência com essa menina estressada e elétrica, rsrsrs, muito obrigada!
O maior agradecimento? Pelos olhos de Deus que sempre estão sobre mim!
O maior presente? Mais um ano de vida junto de Deus e aprendendo a amar o próximo em todas as circunstâncias.
E ao apagar a velinha, meu pedido não será secreto: desejo, de todo coração, me apaixonar cada vez mais por Deus e pela minha missão."Senhor, quando eu tiver fome,
manda-me alguém para eu alimentar.
Quando eu estiver triste,
manda-me alguém para eu consolar.
Quando eu estiver pobre,
manda-me alguém mais pobre do que eu.
Quando eu não tiver tempo,
manda-me alguém para eu escutar.
Quando eu for humilhado,
manda-me alguém para comigo louvar.
Quando eu estiver desanimado,
manda-me alguém para eu encorajar.
Quando eu me sentir incompreendido,
manda-me alguém para eu abraçar.
Quando eu não me sentir
amado,
manda-me alguém para eu
amar."

(Madre Tereza de Calcutá)
Um beijo bem feliz e mais velhinha... ;-)
Deus os abençoem!!!
Com carinho,
Luiza.