quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Doce irmão


Se meu irmão estivesse aqui, ele ia achar tudo muito feio: essa coisa dos bandidos ameaçarem a cidade toda; aterrorizarem pessoas; ocuparem nosso espaço em tantos lugares e de forma tão cruel.

Se meu irmão estivesse aqui, ele ia escrever no caderninho: "Mas isso tá certo? Por que ninguém faz nada?"

Se ele estivesse aqui, com certeza eu teria sorrido por causa de uma de suas pérolas, frente às notícias de hoje.

Se ele estivesse aqui, estaria indignado com o dinheiro que deixamos pro Governo mas que não vemos o retorno. Uma indignação que vez em quando me questionava o motivo das coisas continuarem assim... assim...

Tantas vezes lhe disse que não dependia de nós.
Tantas vezes lhe pedi que não se importasse tanto com o esgoto a céu aberto, com as crateras nas ruas, com o perigo de parar no sinal, com a violência que não me deixava chegar até ele a qualquer hora que eu quisesse...
Pedi tanto.
Expliquei tanto.
Argumentei tudo o que podia.

Mas ele tinha razão.
Não é pra ser assim.

Deus tem razão.
Não é pra ser assim.

Os homens... os homens precisam, quiçá um dia, ver que nada disso tem razão. E que a vida continua sendo o dom mais precioso que Deus nos deu.

Mas se meu irmão estivesse aqui, talvez, ele não escrevesse nada no caderninho (depois das cenas que tivesse visto hoje na tv, sobre a violência assustadora no Rio). Ele simplesmente se roeria por dentro, sentiria - milimetricamente - a sonda permanente que estava nele; se lembraria da sua impossibilidade de comer, sua árdua tarefa de respirar, sua não-boca para sorrir. Se roeria de tanta vontade de viver enquanto tantos se matam (e matam) por tão pouco. Aliás, por nada.




Nada disso ficará... nada disso valerá...
Mas eles não entendem. Eles são carentes daquilo que meu irmão tinha de sobra: a certeza do amor de Deus.

E como foi bom ver esse amor brilhar todos os dias em que o tive ao meu lado...

Irmão querido,
vc faz muita falta. Tanto que até dói. Mas como é bom saber que até te recolhendo, Deus foi tão generoso... Vc não partiu por causa de nenhum desses "sem-amor" que estão espalhados na cidade. Vc partiu porque Deus te amou primeiro.

E havendo guerra ou não, disputa de facções ou não, fogo, tiro, seja o que for, eu nunca me deixarei levar por nada disso. Por amor a mim, por amor a tudo o que vc nos ensinou. Por amor Àquele que te tem no colo - pessoalmente - agora.

Deus,
eu te amo muito. Obrigada por tudo. Ensina-nos a viver mais diante da Sua doce companhia!