sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

É muito simples... (Texto de 22 de Dez de 2009)

Agora ele não tem mais uma parte do rosto.

Não tem voz há mais de 1 ano.

Não come pela boca há mais de 1 ano.

Lhe fizeram a traqueostomia.


E eu olho para o que foi meu 2009 e olho pro Natal se aproximando de novo e fico pensando no quanto fui feliz. No quanto o Salomão fez tantas pessoas felizes.


Muita gente me pergunta porque o Salomão sofre tanto. E eu fico pensando que justo da dor dele, Deus permitiu que tantas pessoas passassem a transbordar de amor.


E não é amor de filme, novela... não. É amor que sai do fundo do coração para e por qualquer coisa. Aquele amor que faz brotar mais:


- paciência diante de circunstâncias que não nos cabe resolver;

- compreensão que muitas vezes é o que simplifica a leveza do perdão;

- valorização de dádivas constantes que a gente custa a reconhecer e está sempre reclamando, reclamando, reclamando...


Enfim, um amor que ensina ser feliz e ter esperança, mesmo diante de uma dura notícia ou realidade.


Acho que perdi algumas coisas em 2009, chorei algumas vezes, tive momentos de raiva... momentos de angústia. Tudo isso, como qualquer ser humano tem. Por outro lado, ganhei lições que vão marcar toda a minha vida. E muitas delas (se não, todas), vieram através do Salomão.


Há um câncer agressivo mas há um menino que não se cansa de lutar.

Há uma mutilação mas há sempre um “Papai do Céu sabe o que faz...” Sim... ele escreve isso. Ele transmite isso. Ele deseja que vivamos isso e, vez ou outra, escreve “Deus me dá essa força”.


E quando eu olho pra esse menino afetado física e esteticamente, quando olho pros seus ombros com marcas de enxertos, quando vejo sua barriga cheia de cicatrizes e, apesar de tanto ele sempre tentando rir (mesmo sem a boca inteira) de qualquer coisa que a gente brinque com ele, bom, aí fico pensando: como é que eu poderia ser mais feliz...???


É aí, na dor, na dura realidade, no desafio constante de ver a doença avançar e mutilar esse menino... então, aí eu vejo o sentido do Natal. Tal como ele realmente é. Aí está o sentido da fé, da esperança, da paz totalmente possível e de um amor milagroso, límpido e transformador. E, tudo isso, desejo, sinceramente, para cada um de vocês nesse Natal ! E que 2010 seja cheio de oportunidades para amar muito e receber em dobro! :)


Muita saúde a todos e um enorme carinho e misericórdia de Deus, abençoando-os infinitamente!


Um beijo grande, muito grata especialmente àqueles que ajudaram com o impossível para fazer a diferença para o Salomão!


Fiquem com Deus,
Luiza.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A velha e boa calçada da Light...


Ainda lembro, como se fosse hoje, dos meus passos apertados passando em frente à Light, rumo ao trabalho. Enquanto isso, minha cabeça cheia de pessoas que me pedem orações e eu pedindo a Deus por cada uma delas. Assim mesmo: andando, pensando e orando.

Sabe aquelas cenas que marcam? Aquela coisa da gente pensar na pessoa e já vir um lugar na cabeça? Assim é para mim a calçada da garagem da Light. Acho que é o quase chegar no trabalho (e o mundo de coisas que vou encontrar lá dentro) que talvez me faça, aqui fora - ali naquele pedaço de rua – pensar, pedir pelas pessoas, pela “última vez” antes de entrar “em cena” (na rotina do trabalho).
Dia desses, em casa mesmo, conversando com Deus e lembrando dessas pessoas, me vinha a imagem da velha calçada da Light. Já passei por ali pedindo por pessoas transtornadas que perderam entes queridos e hoje são pessoas que vivem com serenidade, aceitando o que lhes foi levado...

Já pedi tanto pelo ânimo de tantos doentes... Uns surpreenderam médicos, outros surpreenderam a si próprios...
Já passei por ali desejando que tantas e tantas pessoas desejassem ver as coisas boas da vida... que tivessem vontade de ver tudo o que há de bom e não o que há de dor apenas. E tantas e mais tantas seguem iguaizinhas... nem otimistas, nem depressivas. Apenas iguais.

E eu tava pensando agora – aqui em casa mesmo – quando, de novo, eu estava pedindo a Deus em favor dessas mesmas pessoas, que realmente algumas coisas permanecem iguais e isso não é bom e nem ruim. E nem eterno. Há esperança o tempo todo, pra tudo...

A calçada da Light segue esburacada, algumas pessoas seguem doentes outras, seguem animadas enquanto outras, seguem sem a velha e boa vontade de viver.

E aí, no meio disso tudo, vem como uma memória muito viva eu passando por essa calçada e pedindo a Deus pelo Salomão. Às vezes eu tava vindo de uma visita no INCA, às vezes eu vinha de casa e trazia comigo aquele abraço apertado dele ou aquele adeus antes da expectativa de seu preparo para uma consulta.

Eu não lembro o que eu esperava disso tudo mas sei que minha parte eu fazia: pedia por ele com toda força do meu coração. Com todo amor do meu coração. E quantas e quantas vezes essa oração vinha acompanhada de um sorriso dele, apesar do rosto cada vez mais desfigurado.

Quantas e quantas vezes essa oração vinha acompanhada de um abraço feliz, sincero, de alguém que se sentia tão amado por mim.

Quantas e quantas vezes essa oração vinha acompanhada das próprias mãos de Deus sobre ele e envolvendo o meu coração de tal forma a me mostrar que tudo aquilo já era um grande milagre, tudo aquilo já era uma lição todos os dias, tudo aquilo já marcaria a minha vida para sempre.

Tudo aquilo era dor, mas também era amor.

Dia desses eu lia num ótimo livro que se chama “O que realmente importa” que amar alguém desconhecido é que é o mais difícil. Que colocar na sua vida um outro alguém que chega do nada e que te faz abrir mão das coisas que te são mais importantes, isso é totalmente desafiador. Mas aí está a máxima do verdadeiro amor. E eu fui lendo aquelas linhas e lembrando do quanto, por vezes, me senti tão sozinha por ter decidido amar o Salomão como ele realmente precisava, ama-lo até que ele se sentisse repleto do mais puro amor de Deus e sentisse prazer em acordar todos os dias porque era mais um dia de presente. E por pior que fosse a sua situação, ele não via como um “presente de grego”. Ele sabia ver tudo o que era bom. E sabia agradecer ao Autor da Vida por tudo. Tudo, tudo.
Esse livro que to lendo também pergunta o que a gente faz com os dias que nos são dados e o que deixaremos como legado... (eu sei de cor e salteado, de trás pra frente, de frente pra trás o que o Salomão deixou)

E ali, passando pela velha calçada da Light, às vezes me pego saudosa, lembrando de quando eu pedia a Deus pelo melhor pelo Salomão e desejo, de coração, que todos os que estão nas minhas orações e estão vivos, façam dos seus dias mais belos... tenham vontade de deixar um legado...

Que sintam o amor de Deus por eles através do tanto que eu desejo isso e desejo que refaçam suas forças, seus ânimos, seus sonhos... tanto quanto o Salomão o fez a cada dia de vida.

Sofrer... sofrer... conhecer a dor... também é um meio para se aprender a amar mais. E melhor.

Luiza, 23h e pouca, em 15/02/2011.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Essa cara de palhaça...

"Quando eu era jovem, eu pensava que com a arte seria possível mudar o mundo.

Eu buscava constantemente um espetáculo que pudesse despertar no coração do público uma esperança.

Eu queria mostrar uma maneira diferente de viver, com mais amizade, criatividade, sem a obrigação de perseguir o dinheiro e o poder.

Ilusão fútil que eu nunca consegui alcançar.

Não só a revolução não chegou, como as pessoas se tornaram cada vez mais loucas e materialistas.

Quando eu me dei conta disto eu vivi momentos difíceis pensando, pensando inclusive que minha vida era um fracasso e que todo esforço era inútil.

Mas um dia eu tive uma revelação: se não se pode mudar o mundo, pelo menos é possível mudar a si mesmo, encontrar algo em seu coração, um desejo, uma necessidade e entregar-se totalmente a ele, sem olhar para trás.

Isso não é para a sociedade ou para os outros, não, é para você mesmo. E eu, fazendo esse palhaço que eu sou, eu encontrei essa coisa.

Provocar, burlar e fazer o público rir.

Isso era tudo o que eu buscava em minha vida.

Por certo eu não mudava o mundo, mas os palhaços nunca mudaram o mundo, passam o tempo tentando sem nunca conseguir, por isso são palhaços.

Os palhaços gostam do fracasso e das ações ineficazes, são perdedores alegres e isto é a verdadeira força que têm, nunca se cansam de perder.

Desfrutam de cada fracasso e voltam em seguida a fracassar de novo, diluindo assim as certezas das pessoas sérias e que nunca duvidam.

Então, esse sangue que pareço ter na minha cabeça, esse sangue que tenho sobre a minha camisa, esse sangue que tenho no meu coração, esse sangue que está todo em mim é tão patético e inútil em seu simbolismo porque é sangue de um palhaço.

Um sangue que não vem de uma grande luta ou em nome de uma causa heróica.

É sangue de brincadeira, ao mesmo tempo verdadeiro e pouco importante."

(F. Nietzsche)