quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Apenas um dia

O dia tava lindo lindo.
Amanheci bem, sem nenhuma dor de cabeça.
Dormi bem e quando acordei, me deu uma vontade enorme de falar com Deus, como se estivesse com saudade.
Tem coisas do trabalho que durante a semana penso, penso, penso e não chego a nenhuma conclusão. Às vezes saio das reuniões com o cliente pensando no que mais poderia fazer, como agir com algumas questões, como organizar algumas idéias... Aí, nesse dia lindo, de noite bem dormida e a cabeça leve e cheia de vontade de pensar em Deus, também consegui organizar alguns pensamentos do trabalho.
Peguei meu celular – que estava na mesinha de cabeceira - e comecei a anotar tudo o que vinha de idéia na minha cabeça. Claro que eu não trataria naquele dia. Fui apenas colocando as idéias como lembretes. Tudo ficaria pra segunda, terça, quarta... se Deus quiser.
Depois, estiquei o braço – mais uma vez à mesinha de cabeceira – e peguei a Bíblia. Saudade do tempo que eu lia capítulos e mais capítulos como quem deseja ansiosamente ver o final de um livro comum. Já se foi o tempo que eu conseguia fazer isso. Ultimamente, o trabalho não tem me permitido esse velho hábito...
Li alguns capítulos da chegada de Paulo em Roma e algumas coisas do Antigo Testamento também, quando Abrãao seguia à Terra Prometida.
Sem muita pressa, fiz minha oração da manhã.
Saí do quarto, tomei café e fiz contato com a amiga Edilene que tinha topado a programação do dia: uma visita ao Salomão.
Marcamos logo após o almoço e seguimos na emoção de eu não ser parada numa blitz pois não encontrei minha Habilitação de jeito nenhum, rs.
Chegando à casinha do Salomão, o encontramos assistindo tv e se alimentando pela sonda. Levantou da cadeira e nos deu um abraço apertado. Lavamos as mãos e começamos nosso papo.
Falamos de coisas urgentes, curiosidades que ele tem, assuntos pendentes e até sobre o terceiro lançamento do livro.
Falamos d vida, compartilhamos coisas nossas e até surgiu um assunto sobre namoro. Salomão reclamou que as pessoas amigas são comprometidas, rs, e começamos uma conversa sobre isso também. Sobre a importância da nossa razão de viver não ser através de pessoas e nem coisas. Apenas Deus.
Vendo - constantemente - aquele menino se levantar para enxugar sangue e secreção que saía do buraco em seu pescoço, fiquei pensando que mesmo que pouco tenha noção, é exatamente isso o que Deus para o Salomão: sua - e totalmente sua - razão de viver. Muito mais do que ele imagina...
Continuando a conversa, Salomão disse que não tinha namorada porque a cara dele era feia. Eu disse que não, que tem muita gente solteira por aí pois o que tem que "bater" é o coração e não a aparência. Ele fez que "sim" com a cabeça como se estivéssemos falando uma coisa fácil de aceitar. Sem qualquer revolta por não ter a metade do rosto e nem perspectiva nem de cura e nem de plástica, ele ouviu nossos comentários com serenidade e seguimos falando do amor de Deus: "Só o amor de Deus nos inspira, Salomão. Só isso nos anima e nos faz viver. A coisa mais importante que podemos sentir na nossa vida, a cada segundo de vida, é sentirmo-nos amados por Deus."
Ele olhava pra nós e, seguindo com serenidade, concordava.
Eu e Edilene, bem no fundo, sabemos que quem mais tem discursos e experiências com Deus é justo o Salomão. Justo aquele guerreiro que nos ouvia.
Como diz o Pe. Pablo, Salomão é um santo entre nós!
Aí, falamos pra ele que tínhamos que ir embora pra missa. Justo aí, ele nos pediu que preparássemos a comida dele que, na verdade, é muito mais difícil do que uma simples comida. Tem que esperar esfriar, bater várias vezes no liquidificador, coar, peneirar, peneirar, peneirar... até chegar no ponto. Olhei pra Edilene. Acho que nos entendemos apenas olhando, pensando a mesma coisa: “vamos confiar em Deus.”
Enquanto a Edilene mexia com o liquidificador, eu lavava a louça e depois, fui ver o cachorrinho que estava tão mal e doente.
Enquanto isso, Salomão começou a procurar um cd que eu não fazia idéia do que era e mal reparei, já que eu estava ajudando o cachorro e a Edilene, peneirando a comida.
Quando dei por mim, ele tinha posto um cd de forró e, com um caderninho nas mãos, escreveu pra mim: "Vamos dançar?"
E eu respondi: “Ah??”
Até perguntei pra ele se ele tinha bebido, rs. Tanto eu quanto a Edilene já era pra estarmos longe dali fazia tempo e estávamos ansiosas por causa da hora e ainda por cima ele queria dançar?!
Disse pra ele que eu tava cuidando do cachorro enquanto a Edilene terminava de peneirar e que a gente tinha ficado com ele até aquela hora.
Ele sentou na cadeira e ficou ouvindo o som mas,não tive coragem de deixá-lo assim.
Fui até ele, pedi desculpas e chamei-o pra dançar.
Ele não quis.
Pedi que ele tentasse entender que estávamos com pressa.
Entender... eu tava pedindo pro Salomão me entender... que absurdo...
Pedi desculpas de novo e chamei-o pra dançar.
Isso durou mais uns 5min pois ele não queria mais, de jeito nenhum, rs.
Até que ele aceitou e não só aceitou como pediu pra Edilene bater fotos nossas dançando.
Rimos, brincamos com os passos errados dele e ficamos zoando pois ele não tirava o pé do chão. Começamos a brincar, falando que dança de Angola é diferente e tal... até a Edilene entrou na dança, rsrs.
Saímos de lá depois de umas 5 músicas, uns 5 abraços bem apertados e com uma paz gigante, sem ao menos olhar no relógio que horas eram.
Chegamos à Dutra e ainda pegamos um engarrafamento que já estamos até acostumadas, por causa de obras que tem nuns trechos dali.
Enquanto estávamos engarrafadas, recebemos um torpedo do Salomão: "Obrigado pelo preparamento da minha janta e asima de td seu e voco lindo amor. Amo vcs. Bjs e uma ecelente semana. "
Chegamos à missa e estávamos só 15min atrasadas! Conseguimos aproveitar muita coisa e o melhor: estávamos ainda mais perto de Deus, como se estivéssemos fechando com chave de ouro aquele dia, enquanto cantávamos:
"...e o vento forte
que me leva pra frente
é o amor de Deus"
Nada que vivemos junto ao Salomão é fácil. Muito pelo contrário, cada vez mais o amamos e cada vez mais é difícil tratar com serenidade essa realidade dele.
Mas vivendo tudo o que pudemos viver com ele nesse dia e ainda cantarmos que "o vento forte que me leva pra frente é o amor de Deus", foi como se Deus respondesse as coisas que vínhamos guardando no coração desde a visita ao Salomão. Como se tudo o que falamos pra ele lá, precisássemos viver profundamente também na nossa vida: que o amor de Deus nos anima, reergue, nos leva pra frente.
O dia foi perfeito, lindo, abençoado por Deus, livre até de perder a missa e de uma apreensão do veículo, já que eu andava sem a minha carteira. ;-)

É claro que eu podia ter ido à praia ou assistido coisas que passam na tv e que um monte de gente me pergunta se eu vi e eu costumo falar que não. É claro que eu também ia gostar de ter ido ao shopping ou resolvido alguma coisa minha pessoal (e não faltam coisas pra resolver!) e até tomado um sorvete, caminhando pela orla. Minha mãe costuma dizer que eu mal vejo o mar. E é verdade.
Mas, dia desses, conversando com minha mãe sobre a Pneumonia que o Salomão pegou e a vontade que eu tava de encontrá-lo logo, confessei: "Mãe, tenho percebido que não sei ser feliz de outro jeito. Acho que eu não seria tão feliz indo à praia, dando voltas no shopping, tomando sorvete... quanto sou feliz quando estou com o Salomão."