quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A velha e boa calçada da Light...


Ainda lembro, como se fosse hoje, dos meus passos apertados passando em frente à Light, rumo ao trabalho. Enquanto isso, minha cabeça cheia de pessoas que me pedem orações e eu pedindo a Deus por cada uma delas. Assim mesmo: andando, pensando e orando.

Sabe aquelas cenas que marcam? Aquela coisa da gente pensar na pessoa e já vir um lugar na cabeça? Assim é para mim a calçada da garagem da Light. Acho que é o quase chegar no trabalho (e o mundo de coisas que vou encontrar lá dentro) que talvez me faça, aqui fora - ali naquele pedaço de rua – pensar, pedir pelas pessoas, pela “última vez” antes de entrar “em cena” (na rotina do trabalho).
Dia desses, em casa mesmo, conversando com Deus e lembrando dessas pessoas, me vinha a imagem da velha calçada da Light. Já passei por ali pedindo por pessoas transtornadas que perderam entes queridos e hoje são pessoas que vivem com serenidade, aceitando o que lhes foi levado...

Já pedi tanto pelo ânimo de tantos doentes... Uns surpreenderam médicos, outros surpreenderam a si próprios...
Já passei por ali desejando que tantas e tantas pessoas desejassem ver as coisas boas da vida... que tivessem vontade de ver tudo o que há de bom e não o que há de dor apenas. E tantas e mais tantas seguem iguaizinhas... nem otimistas, nem depressivas. Apenas iguais.

E eu tava pensando agora – aqui em casa mesmo – quando, de novo, eu estava pedindo a Deus em favor dessas mesmas pessoas, que realmente algumas coisas permanecem iguais e isso não é bom e nem ruim. E nem eterno. Há esperança o tempo todo, pra tudo...

A calçada da Light segue esburacada, algumas pessoas seguem doentes outras, seguem animadas enquanto outras, seguem sem a velha e boa vontade de viver.

E aí, no meio disso tudo, vem como uma memória muito viva eu passando por essa calçada e pedindo a Deus pelo Salomão. Às vezes eu tava vindo de uma visita no INCA, às vezes eu vinha de casa e trazia comigo aquele abraço apertado dele ou aquele adeus antes da expectativa de seu preparo para uma consulta.

Eu não lembro o que eu esperava disso tudo mas sei que minha parte eu fazia: pedia por ele com toda força do meu coração. Com todo amor do meu coração. E quantas e quantas vezes essa oração vinha acompanhada de um sorriso dele, apesar do rosto cada vez mais desfigurado.

Quantas e quantas vezes essa oração vinha acompanhada de um abraço feliz, sincero, de alguém que se sentia tão amado por mim.

Quantas e quantas vezes essa oração vinha acompanhada das próprias mãos de Deus sobre ele e envolvendo o meu coração de tal forma a me mostrar que tudo aquilo já era um grande milagre, tudo aquilo já era uma lição todos os dias, tudo aquilo já marcaria a minha vida para sempre.

Tudo aquilo era dor, mas também era amor.

Dia desses eu lia num ótimo livro que se chama “O que realmente importa” que amar alguém desconhecido é que é o mais difícil. Que colocar na sua vida um outro alguém que chega do nada e que te faz abrir mão das coisas que te são mais importantes, isso é totalmente desafiador. Mas aí está a máxima do verdadeiro amor. E eu fui lendo aquelas linhas e lembrando do quanto, por vezes, me senti tão sozinha por ter decidido amar o Salomão como ele realmente precisava, ama-lo até que ele se sentisse repleto do mais puro amor de Deus e sentisse prazer em acordar todos os dias porque era mais um dia de presente. E por pior que fosse a sua situação, ele não via como um “presente de grego”. Ele sabia ver tudo o que era bom. E sabia agradecer ao Autor da Vida por tudo. Tudo, tudo.
Esse livro que to lendo também pergunta o que a gente faz com os dias que nos são dados e o que deixaremos como legado... (eu sei de cor e salteado, de trás pra frente, de frente pra trás o que o Salomão deixou)

E ali, passando pela velha calçada da Light, às vezes me pego saudosa, lembrando de quando eu pedia a Deus pelo melhor pelo Salomão e desejo, de coração, que todos os que estão nas minhas orações e estão vivos, façam dos seus dias mais belos... tenham vontade de deixar um legado...

Que sintam o amor de Deus por eles através do tanto que eu desejo isso e desejo que refaçam suas forças, seus ânimos, seus sonhos... tanto quanto o Salomão o fez a cada dia de vida.

Sofrer... sofrer... conhecer a dor... também é um meio para se aprender a amar mais. E melhor.

Luiza, 23h e pouca, em 15/02/2011.

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