terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A menina que dobrava os joelhos




Clara tinha lido, ainda na infância, sobre o Joelho Juvenal. Esse era o título de um livrinho do escritor Ziraldo, que falava das alegrias de um joelho que vivia machucado mas... vivia feliz! Ele era joelho de um menino bem menino, isto é, menino criança, menino que corria, pulava, brincava com outras crianças. Vez em sempre, lá estava o Juvenal todo cheio de "bandaid" e todo ralado. Com um olho aberto e outro inchado, o Juvenal, ainda assim, se sentia feliz. Um dia, o menino cresceu e Juvenal nunca mais viu a luz do dia... O menino usava calças, todos os dias, pois não brincava mais. Ele ia trabalhar.

Clara pensava “mesmo com a dor dos machucados, tinha motivos pra Juvenal ser feliz”. Assim também é a vida... Mesmo com dores, situações inevitáveis, preocupações que tiram o sono... existe pelo menos um motivo pra ser feliz todos os dias. Afinal, melhor a luz do dia do que uma vida sem luz.

Quando já adolescente, Clara se apaixonou. Se apaixonou por um Homem que deu a vida por ela. Numa atitude de honra e amor, pensou que poderia conversar com Ele ajoelhada, quando se concentraria mais e ouviria melhor a voz Dele.

Nunca se importou se achavam isso estranho. Afinal, ninguém entendia o Juvenal também...! Ninguém entendia como ele podia ser feliz caindo sempre, se machucando tanto. Clara se importava que tinha joelhos, tinha duas pernas... tinha condições físicas para poder se ajoelhar como um ato de amor àquele Homem que lhe deu a vida. E sempre que se ajoelhava, pensava naqueles que queriam fazer o mesmo mas não tinham joelhos ou, não tinham condições de tal ato.

Um dia, Clara levou um tombo. Estranhou muito quando passou dias sem conversar com Ele ajoelhada. Numa outra ocasião, Clara fez uma cirurgia de emergência e lá estava ela, de novo, deitada, sentindo como se faltasse algo... Faltava o Juvenal dela num travesseirinho bem acomodado no chão.

Com a recuperação, começou tudo de novo. Estivesse cansado, ou com sono; estivesse atrasado para trabalhar ou com preguiça, o Juvenal de Clara abraçava aquele travesseirinho no chão com vontade, com amor. Não se machucava mas era feliz – mesmo que já fosse joelho de menina grande – era feliz por aquela alegria de Clara. Não corria como o Juvenal do Ziraldo mas... era muito feliz.

O tempo passou e Clara levou mais um tombo. Dessa vez, o joelho foi acertado em cheio. Uma tendinite retirou, de novo, o velho e bom hábito da grande menina. Foram vários dias mancando, vários dias enchendo de fios que davam choquinhos, gel e mais um monte de coisas da Fisioterapia que Clara fazia. Quando via pessoas se ajoelhando, Clara permanecia em pé; quando acordava, Clara ficava de pé ao invés de joelhos; e quando ia dormir, lá estava Clara de pé, com seu Juvenal meio manco, meio sem função, tão de licença quanto ela estava.

Dia desses (se não me engano, hoje tem 8 dias), Clara me contou a novidade: Depois de muito tempo, voltou a conversar com o Autor da Vida, bem de joelhos!

E ela contou numa alegria...!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Até é uma pena que o Juvenal da menina grande não fala... Se ele falasse, por certo diria que também voltara a vibrar com a saúde de poder se colocar ao chão, todos os dias, simplesmente por amor.

Em tempo...

Clara é amiga da Flávia Chagas. Flávia renovou a Habilitação recentemente e também fez aniversário recentemente.

Numa troca de e-mails em que Clara a parabenizava por mais 1 ano de vida, Flávia contou uma boa história: ao renovar a Habilitação, havia uma série de perguntas que a própria Clara (coincidentemente também tinha renovado a dela por aqueles dias) achou uma chatice responder aquele bando de perguntas. Clara estava voando na hora do almoço para renovar a Habilitação e estava aflita por causa da hora no trabalho. Na pressa, Clara não percebeu o que Flávia percebera...

É que, de todas as perguntas feitas no formulário (sofreu acidente grave? possui alguma deficiência visual ou motora? possui hipertensão, diabetes, etc? já quebrou algum membro?), Flávia se deu conta que respondeu “não” em todas! Quanto abençoada ela era! E, ao contar pra Clara, ela também se deu conta do quanto tinha mais razões pra ser feliz!

Ninguém descobriu ainda o nome do Juvenal da Clara (e nem do Juvenal da Flávia) mas, um passarinho me contou que, no mínimo, eles são irmãos. Os joelhos das amigas são irmãos porque as amigas são filhas do mesmo Pai (pois Ele também deu a vida pela Flávia).

E, por certo, o Juvenal tem mais de 1 bilhão de irmãos mundo afora... E todos eles – ainda que com nomes diferentes – também têm motivos para serem felizes...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.