domingo, 7 de junho de 2009

Por tanto amor, a vida me fez assim... ;-)

A minha avó era mineira e era feliz.
A minha avó vivia na roça e era feliz.
A minha avó acordava quando ainda estava escuro, almoçava às 09:30 da manhã e era feliz.
Minha avó não conhecia dinheiro, não escolheu seu marido, não escolheu um vestido... e era feliz.
Minha avó se alimentava de histórias, de estrelas e de ver o plantado nascer, e era feliz.
Depois de anos exaustivos, com a pele mastigada pelo duro sol, minha avó era feliz.
A família veio para o Rio e no meio do nada e do novo, ela ainda era feliz.
Viu os filhos nascerem, deu beliscões, beijos, comida, e era feliz.
Viu o marido morrer, viu filhos morrerem, viu os pais morrerem... mas era feliz.
Ela me viu nascer, viu nascer meus primeiros passos e meus primeiros dias de aula, sempre feliz.
Minha avó fazia o quiabo, a abóbora, o suco de laranja e era feliz.
Ela me penteava os cabelos, carregava minha mochila, conversava com as flores no caminho da escola, e era muito feliz.
Atravessava a rua comigo e atravessou estradas pra me encontrar, sempre feliz.
Ela fazia todos os chás na época do Sarampo, da Catapora, da Coqueluche... e era feliz.
Minha avó fazia sopinhas, fazia carinho e dava risadas comigo, porque era feliz.
Ela me viu crescer, viu que já ia à escola sozinha e que partia para viagens e para cursos e, ainda assim, continuava feliz.
Ela viu em si própria, as marcas do tempo, o peso do corpo e as conseqüências para o seu organismo... e conheceu as primeiras doenças, ainda feliz.
Fez as primeiras cirurgias, as graves cirurgias e, olhando tanto amor em volta, mais uma vez viu Deus e viu que era feliz.
Essa semana ela completa 87 aninhos... uma vida extremamente rica... de vitórias, de memórias, de provações, de surpresas mas, especialmente, de amor. Muito amor. E em todos os momentos ela soube que podia e devia ser feliz. Muito feliz...
Porque isso foi florescendo dentro de mim, e dentro de muitas pessoas que a conhecem, que hoje posso rir de qualquer coisa, e em qualquer circunstância, se eu me puser a recordar a sua trajetória.
Porque nessa mulher houve e há alegria, e porque a alegria é fruto da humildade, da perseverança, da paciência e do amor que rega, todos os dias, o jardim do nosso coração.
Obrigada, Deus, pela coisa mais linda que é essa mulher na minha vida!!!

Data: 02 de outubro de 2006 – 00:51