domingo, 15 de novembro de 2009

Adeus à querida Suelen...

4 de fevereiro de 2007

Se hoje o seu relógio despertar e for hora de vc começar um novo dia, comece-o sorrindo. Mas não é qualquer sorriso e nem é mais um dia. É o seu dia. Ele é todo seu... as dádivas são todas suas... e, diferente de milhões de pessoas, vc vai poder vivê-lo inteirinho, resplandecente e com saúde. Vc vai desfrutá-lo do início ao fim. Vc vê vai ver sinais fechando, folhas das árvores caindo, vai ver famílias caminhando, a água do rio entornando pela margem, nuvens correndo, o clarão do sol ou chuva forte, e um entardecer laranja ou cinza escuro, numa melodia harmônica. Mas vc vai ver! Vc vai estar ali, exatamente em todos esses momentos, porque foi mais um dia de vida seu.
Quando vc vir as mesmas coisas, saiba que elas não são iguais e nem são banais. Elas se renovam e renovada é a importância de todas as coisas, porque são novas as manhãs... porque são novos dias... dias vividos pela primeira vez.
Quando o cansaço for físico mas vc andar, quando o aborrecimento for grande mas vc puder combater, quando a dor for de saudade mas de uma saudade de alguém que foi até a outra cidade ou que foi na padaria da esquina... ainda assim, lembre de sorrir.
E quando vc sorrir, lembre de amar. Mas não é amar a roupa nova, o carro novo, o namorado(a), o show incrível... lembre que é hora de saber a amar o amor. O amor imensurável e caviloso. Porque só ele, edificado, é que vai ser capaz de construir uma cidadela. E ela vai ser tão grande que, por si só, vai bastar para acolher todas as impermeabilidades.
Na noite passada, faleceu a amada Suellen (do meu trabalho voluntário no Sonhando Juntos).
Eu, como ser humana, não questiono o fato. Mas, se eu pudesse, teria dado a ela tudo que infinitas pessoas têm todos os dias, e não percebem... A sua luta não foi só contra o câncer. Ela não era apenas uma menina dodói. Ela era uma menina dodói, sem mamãe presente e sem uma família estruturada. Era parte da gente corroída pela pobreza do nosso país. Era uma menina lutadora, perseverante mas, extremamente cansada. Ela via as coisas acontecendo, ela via as cores da televisão, ela vivia no mundo moderno mas a sua realidade era completamente diferente da que lhe é apresentada pela sociedade. Vivia a contingência de estender os braços e se esforçar para remir a cidadania afrontada pela condolência.
Retrato da inconstância de uma rotina anormal aos olhos do que desde o início, faz-se ser planos do Criador. Porque daí vêm os frutos do verdadeiro amor: amar a tal ponto que, desde o início, nada desande e tudo seja firmemente construído a fim de que, no futuro, nada seja cruelmente abalado.
"Quem não sonha em ter uma casa com pomar, flores e frutos, pássaros e uma queda d´água? E por que tanta injustiça? Não é culpa de Deus... Nós que estragamos o jardim, pisamos na grama, esmagamos as flores, aprisionamos os pássaros, contaminamos a água, nós que mordemos a maçã do conhecimento e não digerimos que não somos deuses, não podemos tudo, fomos criados para amar, condividir, repartir e, no entanto, quebramos o pacto de Deus conosco." (Frei Betto)
O sonho da Sussu era ter um computador. Seu interesse por pesquisas e por informações de como superar o câncer, era tudo o que ela desejava através dessa máquina. Mas seus dedinhos nem encostaram no teclado. Não deu tempo...
Hoje, quando vc olhar para o seu computador, para a sua casa, para o seu conforto, para as suas pernas que andam, para seus braços que abraçam e para a sua boca que se alarga num sincero sorriso, lembre dessa menina.
A sementinha de uma história com um final diferente nem está exclusivamente ligada à estrutura dos hospitais do nosso país. Claramente, podemos ver que o princípio de tudo (e a solução) está num sincero amor. O amor diferente do que nos é apresentado. É o Amor mesmo. De verdade. Aquele que une, que fortalece, que nutre, que fomenta, que propicia milagres e vitórias porque, antes de tudo (antes mesmo de ser amor), foi compaixão e foi inexplicável. E foi mistério porque foi doação. E foi o doar-se que transformou em vida. E essa não é qualquer vida e, o doar-se não é a qualquer circunstância... mas a toda e grandiosa circunstância que se faz bela porque se alimenta do verdadeiro amor, que é dom de Deus.

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