domingo, 15 de novembro de 2009

Festa de Natal do Sonhar Acordado - 2006


13 de dezembro de 2006


Chego em casa e vejo minha cama.
Olho ao redor e vejo conforto, uma escrivaninha, uma toalha, um livro, uma foto.
Volto à sala e passo por gentes, por móveis, por uma rotina esteticamente perfeita, comum, natural.
O cômodo que segue dá à cozinha. Abro a geladeira e fico horas escolhendo, escolhendo...
Não quero nada. Esse dia basta.
Hoje quando olhei minha casa e minha gente, lembrei das crianças que enxerguei ao longo do dia.
Enquanto vejo o chocolate, encosto a cabeça no travesseiro, escolho uma roupa... ouço vozes! Muitas vozes... muitas gargalhadas!
Fecho os olhos e me vêm sorrisos, olhares, correrias, brincadeiras... e um carinho incondicional.
Teve "Obrigado, tia!" e teve beijo, abraço, papo...
Minha equipe esteve com o valor "carinho" para ser abordado entre as crianças.
Um deles falou: "Tia, eu sei o que é o carinho sim... é bom a gente tratar bem as pessoas, dar beijo, dar abraço..." De alguma forma ele sabia que isso seria um sinônimo de respeito mútuo e que, acima de tudo, era isso que lhe trazia paz, exatamente pq isso é fruto do amor.
Reunidos na chegada do Papai Noel, vi olhos sem piscar, crianças que não paravam de gritar, adultos emocionados... Pq é que a gente passa um ano inteiro sem lembrar da essência do Natal...? Chorei ali, pasma. De boca aberta, de olhos tremendo, e minhas mãos em uma das crianças que implorava pra colocá-la na corcunda. Meus olhos molhados, mesmo sabendo de toda verdade (que Papai Noel não existe e que aquilo ali é pra agradar criança), não molhavam de surpresa pelo o que o momento representava pra mim, mas por tudo o que enxerguei nos olhos daquelas crianças. Tudo o que aquele momento representava pra eles.
Como é que elas fazem pra sorrir todos os dias do ano? E como é que se sentem, simplesmente sem família, sem os pais, sem irmãos... numa noite de Natal?! E a gente ainda reclama de tanta coisa... tanta coisa inútil.
Uma das crianças me perguntou de supetão: "Tia, vc é feliz?" Ele me perguntou assim mesmo, do nada! E eu, do nada, só poderia lembrar das coisas óbvias... ainda que eu tivesse que medir muito minhas palavras pois falar de lar, de teto, de família... isso não era comum pra ele. Respondi: "Mas é claro que eu sou! Eu tenho saúde, tô correndo com vc debaixo desse dia lindo e a gente pode brincar e se divertir muito... isso já não basta pra eu estar feliz?!" Ele sorriu e respondeu: "É, né, tia?! (rsrsrsrs)"
Quando a festa acabou, quando o dia acabou, eles voltaram à sua normalidade. Todos numa mesma casa, sem pais, sem irmãos, sem muitos móveis nem brinquedos.
Partiram como quem não tem que ir... de jeito nenhum!!! Partiram não... foram levados... chegou-lhes a hora... e, enfileirados, esmagadinhos de tantos que são, Um a um, foram entrando grade afora do portão que lhes guarda.
Uns olhavam pra trás, outros corriam em disparada. Alguns debruçaram no muro alto e, quase que, só com a testa por cima do muro, mexiam as sobrancelhas, querendo dar o último adeus do dia e assim como nós, olhar nos nossos olhos, fitar-nos, alcançar-nos e saber dizer muito e agradecer por tudo, apenas por um simples e lindo olhar.
Desde que tive a oportunidade de passar momentos como esses com essas crianças, que venho falando ter vivido os dias mais especiais da minha vida. Não vou dizer que hoje foi o mais especial pq foi lindo demais (tanto quanto os outros)!!! Mas vou dizer que foi especial pq eu busquei saber vivê-lo. E quando se busca viver com sabedoria, tem-se exatamente isso aí: um resultado alimentador da alma e do coração. Vc olha para aquelas horas que lhes foram dádivas de Deus e repensa no quanto passou valores e fez brotar sorrisos, em pessoas que poderiam não ter motivo nenhum pra isso mas que, por ter alguém que lhes desse carinho e importância, puderam se considerar as mais felizes do mundo!
Meu cansaço é físico. Mas meu coração passaria muitas outras horas com aquelas crianças... e quando eu fechar os olhos hoje, devo sonhar... sonhar rindo... com um gosto de felicidade transmitida (e aprendida!).
Mas as crianças... muitas delas, com certeza, não vão dormir hoje... vão fechar os olhos e vão rever tantos momentos, que por certo vão correr pra janela e ver a lua. Outras, vão olhar para as mãos, agarradas ao presente que ganharam. Mas todas, todas elas, vão lembrar de um dia de sonho. E elas gostariam de acreditar que esse sonho não acabou. Que o que sentiram hoje pode ter sido uma sementinha plantada para uma grande colheita de futuros sorrisos e plenas alegrias. Elas terão sonhos... e serão sonhos sem fim!
Um beijo feliz!

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